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Relação Homem X Aposentadoria

Relação Homem X Aposentadoria (2)

*Por Marcelo Cavalcanti, consultor em Desenvolvimento Humano

 

Dando continuidade ao nosso bate papo da série “Aposentadoria”, a proposta hoje é compreendermos nossa relação com esse período da vida de um profissional.

No modo de produção da sociedade na qual existimos, onde, em geral, existe uma supervalorização da produção que aliena o trabalhador do processo produtivo, a aposentadoria é geralmente experienciada como a perda do sentido da vida, configurada como uma espécie de morte social.

Com o destaque daqueles que estão na ativa (diga-se trabalhando, produzindo) sob o ponto de vista racional e econômico, o profissional aposentado acaba sendo desvalorizado (Santos, 1990).

Com isto, a primeira conjunção mais comum que se faz à aposentadoria é que a velhice chegou e então estou mais próximo da morte, por isto não sirvo mais. Observa-se que tais conteúdos não se manifestam necessariamente ao nível consciente. Ao contrário, são crenças que aparecem, muitas vezes, de maneira velada. Apesar disto, observa-se que esta questão já está se alterando com as recentes e heterogêneas experiências e vivências de envelhecimento e aposentadoria deste mundo moderno que estamos vivenciando – embora ainda esteja muito longe de chegarmos ao padrão ideal de consciência desta situação.

A família e, consequentemente, a própria sociedade, como que num processo de negação, mantêm tabus em torno do tema envelhecimento e morte, como se tais processos não estivessem na sequência natural de nascer, crescer e amadurecer (Moragas, 1991).

Perpetuam-se expectativas que geram um circuito no qual o próprio idoso é influenciado e comporta-se “como todos esperam”. Um aposentado, ao acreditar que não tem mais o que contribuir, pois agora se encontra na condição de inativo, tenderá a se comportar como tal, confirmando a expectativa social existente.

Uma profecia autorrealizável é uma conjectura que, ao se tornar crença, produz a sua própria realização. Quando as pessoas esperam ou acreditam em algo, tendem a agir como se tal crença fosse real e assim contribuem para a sua realização.

Desta forma, é indiscutível que o rompimento das relações de trabalho tem impacto diretamente na vida social e psicológica de cada um de nós, ainda que varie de pessoa para pessoa.

Porém, a aposentadoria não implica simplesmente no que popularmente é dito como “término da carreira”. De fato, é um momento onde a pessoa entra em contato consigo mesma… uma retrospectiva, do que fez, o que não fez, o que gostaria de fazer, e isto acaba gerando alguns conflitos internos…

É verdade que assumir a condição de aposentado de forma brusca, sem uma reflexão e orientação prévia (digo com anos de maturidade e consciência), potencializa, e muito, a ocorrência de problemas no reposicionamento da “reinclusão” no mercado de trabalho, bem como seus novos papéis nos planos de vida pessoal. O bem-estar ou a felicidade decorrem da satisfação sentida com o que se faz e onde se está (O`Brien, 1984).

É preciso acreditar que, apesar das consequências que temos neste momento (trocas de hábitos, mudanças de padrões sociais, novos cuidados com a saúde etc.), podemos fazer novas escolhas, nos âmbitos profissionais e pessoais.

Atualmente, já está comum construirmos mais duas ou até três carreiras após a aposentadoria. Precisamos pensar nisto e encarar este momento com todas as oportunidades e vicissitudes que a vida nos oferece. Basta lembrarmos que devemos fazer nossas escolhas!

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