Embora o comitê seja considerado totalmente estratégico e na classificação de atividades enquadra-se na escala do “importante” e não do “urgente”, ainda assim é uma atividade boicotada por todos.
E por quê? Isso acontece porque este tipo de projeto compreende muita determinação, foco e clareza de objetivo, além da conciliação das agendas de muitos profissionais.
Superadas essas dificuldades, quando a empresa consegue criar o seu Comitê de Saúde, os resultados alcançados e o engajamento são surpreendentes.
A exemplo disso, participei de um comitê dentro de uma indústria de alimentos, cujos membros permanentes eram: médico do trabalho e enfermeiro do ambulatório da empresa, médico da Operadora de Saúde, gestores de pessoas, líderes de fábrica e de setores, gestor da consultoria de benefícios e gerência de RH.
Eventualmente, haviam convidados como supervisores de equipe, representante da segurança do trabalho, entre outros. E por que isso? Para multiplicar o que estava sendo feito, aumentar o engajamento e, acima de tudo, desmistificar qualquer ideia de perseguição que pudesse passar pela cabeça dos colaboradores e deixar mais transparente o conjunto de intenções que eram: o cuidado com a empresa, com os resultados e com a saúde e acolhimento dos colaboradores.
Foi um trabalho fácil? Nada disso, mas tínhamos claramente duas metas naquele ano: diminuir o número de atestados por dia e manter a sinistralidade abaixo de 70%. Ao abrir uma reunião, repetíamos esse “mantra” e tudo que vinha depois era como fazer e como alcançar esse objetivo.
Para tanto, criamos indicadores, começamos a higienizar os dados coletados de afastamentos, separamos os atestados que precisávamos de fato acompanhar e classificamos os afastamentos entre os que tinham relação com o trabalho e aqueles que eram decorrentes de doenças assistenciais. Definimos, desta forma, a atuação e acompanhamento específico para cada grupo. Os “highlights” eram analisados separadamente.
A exemplo disso, saltou aos olhos um simples movimento que fizemos, quando demos atenção aos motivos de lombalgia, ao realizar uma pequena alteração que traria um grande resultado: mudamos a altura da bancada de trabalho que estava baixa para os padrões brasileiros de estatura. Além disso, direcionamos alguns colaboradores para um médico especialista para fazer medição ortopédica dos pés e oferecemos botas adequadas e sob medida para quem tinha algum tipo de disfunção, diminuindo a pressão lombar.
Já com os afastamentos assistenciais, verificamos com o Plano de Saúde alguns casos e como conduzi-los dentro da vasta rede de credenciados, identificando a patologia e o prestador adequado, não só para os colaboradores, mas também olhando para os dependentes. Como exemplo, tivemos uma jovem de 15 anos que recebeu recomendação de cirurgia na coluna. O caso nos tocou devido à idade: enviamos para um médico para colher uma segunda opinião e esse não recomendava a cirurgia, encaminhamos para uma terceira opinião, que desempatou e emitiu um laudo com a mesma recomendação de um dos médicos. Ressalto que isso não tem nada a ver com custo, mas sim pela idade, sequelas e consequências que poderiam acometer essa jovem.
Todo comitê, não inocentemente, sem dúvida, vê custos. Custos são resultados e estão entre os escopos de sua atuação. Mas, isso é consequência. Quando se faz gestão de casos, conduzir o paciente para o recurso correto, acolhendo e analisando o fato, por si só, já diminui o desperdício e aumenta a eficácia do diagnóstico, pois trata e coloca o paciente no local adequado para aquela patologia.
Além de olhar os fatos recorrentes, todo comitê, sem sombra de dúvidas, deve tratar a prevenção. O ideal é conhecer o perfil de saúde dos indivíduos e agora, com a pandemia da COVID-19, ficou evidente isso: a empresa que tinha o mapeamento de saúde dos seus colaboradores foi capaz de agir rápido e de forma eficiente, afastando prontamente a população de risco.
O perfil de saúde tem como objetivo potencializar as ações e direcionar as campanhas. Quando você não conhece a sua população promove palestras de tabagismo para alguns fumantes, enquanto os obesos são maioria e deveriam estar recebendo orientações de hábitos saudáveis e, com isso, incentivar o emagrecimento da empresa, como uma campanha coletiva e engajada.
Mais uma vez vem a reflexão: isso é fácil? Não é mesmo, pois passa por comportamentos e atitudes, que são questões pessoais de cada indivíduo. Se a empresa não entende que ela é corresponsável na educação de saúde de seus colaboradores, ela também não conseguirá enxergar que a produtividade é consequência da reprodução dos seus meios de produção, pois se os profissionais não estiverem com sua saúde plena e com seu corpo saudável, com certeza sua saúde integral estará afetada, sua atenção prejudicada e seu resultado posto à prova – e isso desde do nível operacional ao gerencial.
Ações desse tipo, muitas vezes, precedem investimentos financeiros que, no geral, a área de Gente & Gestão ou não tem ou tem uma verba limitada. É nesse momento que a criatividade impera: parcerias com institutos e organizações dedicadas a alguma causa podem colaborar; engajamento e participação do time com gincanas podem ajudar, entre outras iniciativas.
Comitês de Saúde bem estruturados podem fazer parte, inclusive, das metas de bônus anual das empresas, sendo setorizados para alcançar o seu objetivo máximo. A companhia que se engajar e traçar claramente seus objetivos terá nessa ferramenta, chamada Comitê de Saúde, um grande aliado.
Por fim, não é uma moda. Ao criar um comitê é extremamente importante ter resiliência, persistência e um sponsor para dar notoriedade e vitaliciedade ao projeto. O maior erro que se comete nos Comitês de Saúde é querer fazer a mesma coisa e acompanhar os mesmos indicadores. Um comitê deve amadurecer e se inovar, buscar novas métricas e se reciclar, trazer novos integrantes.
Mas, uma coisa é certa: um Comitê de Saúde estruturado se torna referência na empresa e na trajetória dos profissionais envolvidos.
Pense nisso…